Publicação de mais um texto selecionado na Olimpíada de Língua Portuguesa

  • A publicação desta semana contempla a categoria Memória Literária na qual foi selecionado o texto do aluno Jeison Rafael Lewandowski

    Assunto: Educação  |   Publicado em: 04/09/2014 às 14:32   |   Imprimir

Três alunos das escolas municipais e estaduais de Santo Cristo que participaram da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, realizada a nível local, tiveram selecionados textos das categorias poema, memória literária e crônica, por comissão julgadora municipal.  Os textos selecionados – um por categoria - Estão sendo publicados em três edições consecutivas. 

A publicação desta semana contempla a categoria Memória Literária na qual foi selecionado o texto do aluno Jeison Rafael Lewandowski, da Escola Municipal Rio Branco, de Dona Belinha, que teve na orientação o professor José Mercedo Mallmann. Segue abaixo o texto produzido:

 

 Título: Rifa do Boi Morto

A história teve inicio há mais de trinta anos atrás, quando papai e mamãe se conheceram aqui no Brasil, e o amor cruzou seus caminhos. Após alguns anos de namoro, eles se casaram e foram morar no Paraguai que sempre fora o sonho do meu pai.

Era um país com costumes diferentes e em meio ao mato e a natureza ainda quase que selvagem, o início de suas atividades na lavoura era rude e difícil. Começaram arrendando terras para a derrubada da mata e depois o plantio, sem antes ter procurado um lugar adequado para montar um acampamento, o qual se constituiu por muito tempo na própria moradia. Era um galpão coberto por uma lona que serviu de abrigo, até poderem construir uma casa de madeira mais duradoura.

O local era distante do vilarejo e o vizinho mais próximo residia a mais de um quilômetro de distância. Energia elétrica não havia, e a televisão, por exemplo, só funcionava movida a bateria do trator que papai já havia comprado. A geladeira era movida a gás. Vida e dias difíceis, assim era a sina dos primeiros moradores daqueles rincões.

Certo dia, meu pai foi até a vila onde alguém lhe contou que havia um grande caminhão, cujo dono estava comprando e carregando gado, estacionado próximo a um pequeno mercado, que ficava na rua central do bairro. Todas as pessoas que por ali transitavam, fatalmente teriam que passar por aquela rua. Meu pai chegou ao mercado para comprar alguns mantimentos, bebida e as coisas que faltavam na despensa. De repente se ouviu um barulho muito forte e esquisito que chamou sua atenção. Saiu correndo do mercado no instante em que um enorme touro muito bravo e xucro, quebrou a carroceria do caminhão boiadeiro e saltou pra rua, causando um grande alvoroço entre a população que assistia aquele carregamento. Cada um corria pra um lado diferente, perseguidos pelo touro assustado em fúria. Alguém lembrou de avisar a polícia paraguaia, e, como só havia um guarda que cuidava do vilarejo, e que naquele momento se encontrava por ali próximo, se aproximou e sem pensar duas vezes, sacou seu revólver e começou a disparar contra o touro que ficava cada vez mais furioso. O pânico e o terror tomou conta da população, pois os tiros disparados não conseguiam abater o animal que continuava a correr sem rumo e com algumas balas já alvejadas em seu corpo. Diversas pessoas haviam se ferido durante a correria mas não houve nenhum caso mais grave como consequência. Nesse momento o açougueiro da cidade, que também estava entre os curiosos, aproveitando-se do fato do animal já estar meio cambaleante, sacou da faca que tinha na cintura e desferiu um golpe certeiro no pescoço, fazendo com que o animal sangrasse muito, vindo a morrer logo depois. Aquele fato reuniu praticamente todos os moradores do bairro, formando um círculo humano ao redor do bicho morto. O problema agora era o que fazer com o animal, pois era impossível carregar aquele peso no caminhão boiadeiro. Como não havia autoridade constituída no vilarejo que pudesse decidir sobre o destino do animal, seu proprietário, ou seja, o homem que o havia comprado, sugeriu aos presentes que se fizesse um leilão para que seu prejuízo não fosse tão grande. Como a população era carente, ninguém tinha dinheiro o suficiente para pagar o valor do touro, mesmo que já morto, o açougueiro decidiu comprá-lo e o carneou, e doou metade da carne para uma grande churrasqueada, e tudo acabou em uma grande festa. Todos saíram comentando o fato e comendo um pouco da carne daquele animal, que foi lembrado e comentado por vários anos naquele vilarejo.

Esta é uma história verídica vivenciada pelo meu pai que, juntamente com a mamãe, continuaram vivendo por mais alguns anos no Paraguai. Nesse período nasceu minha irmã que hoje está com quinze anos. Após dois anos eu nasci e hoje estou com treze anos. Um ano após, meus pais decidiram voltar para o Brasil juntamente com meus avós, pois a vida no Paraguai havia se tornado muito difícil.

Hoje estamos residindo no interior do município de Santo Cristo, estado do Rio Grande do Sul, numa comunidade chamada Linha Erval.